DO CASULO À BORBOLETA
Dia desses ouvi de uma amiga bem próxima o desabafo de uma lesão no auge dela no esporte. Contrariando o próprio corpo, ela insistiu em correr machucada e acabou com uma fratura por estresse.
É fácil dar conselhos para quem não está na pele de quem está em uma transformação. Querendo ou não, foi a forma que o universo teve de força-la a dar um tempo no esporte para olhar para outras coisas em volta, como o doutorado e os dois empregos em que ela se dedica.
Já sofri algumas lesões nos meus dez anos de corrida também e já cansei de sentir na pele as dores de quem não pode correr. Uma vez, li que a pior dor é essa e que essa é a forma que o seu organismo reage quando você insiste em coloca-lo sempre no limite, seja nas provas como nos treinos.
No campo pessoal, também tenho vivenciado algo semelhantes. Depois de algumas decepções amorosas e com amizades, decidir parar de buscar no outro algo que eu posso ter em mim mesma, que nada mais é que amor.
Nos dois momentos, nas lesões e nas decepções da vida, o que conta na verdade é a forma que você lida com essas dores. Amor próprio não tem a ver somente com bater recordes pessoais, emagrecer vários quilos, nem tampouco insistir em correr machucada ou mendigando carinho e afeto de quem não tem a oferecer.
A borboleta
Me peguei esses dias pensando na história da borboleta. Para que não sabe, a transformação acontece em quatro fases: o ovo, a larva, a pupa e o estagio adulto. No ovo, há um mecanismo no corpo do inseto que o impede de sair de lá até que as condições do clima e do crescimento sejam favoráveis.
Neste momento, ele se transforma em lava (lagarta). Por dois meses, Nessa fase, que dura meses até mais de um ano, o animal come mais (geralmente folhas) para crescer e guardar energias. Durante esse estagio, a lava produz fios de seda ou semelhantes, que se prendem a superfície onde ela esta. Apesar de ainda não ser o casulo, esses fios servem de abrigo contra os predadores.
Quando o animal atingir a fase de pupa, depois de várias mudanças de pele, ele usará esses fios para construir o verdadeiro casulo. A larva fia em estado de total repouso por um período que vai de uma semana a um mês, dependendo da espécie, e os tecidos do seu corpo vão se modificando. Quando a borboleta já estiver pronta, ela rompe o casulo.
Uma vez livre do casulo, é preciso colocar as asinhas de fora. Elas ficam abrigadas no tórax. O inseto contrai o tórax e joga sangue para dentro do compartimento qual estão as assas. Com isso, o compartimento se rompe e as asas saem.
A mudança real
Assim como a borboleta, existem períodos da vida em que precisamos ficar no casulo para adquirir força e confiança para voar. Seja treinando sozinha, machucada por alguma lesão, mudando de assessoria ou vindo de uma prova malfeita.
No campo pessoal, é como a gente se sente quando algo não sai como planejamos. Decidimos nos fechar em um casulo até adquirir forças novamente para voar.
Em ambas as situações há de se observar que é preciso ter paciência e tempo para que as coisas aconteçam (a mudança de larva para borboleta). O que significa que é necessário esperar as lesões internas e externas cicatrizem para que você novamente possa voar rumo aos seus sonhos.
Emagrecer, bater recordes, conseguir aquele emprego dos sonhos ou viver um grande amor faz parte do processo final. Porém, para viver essa plenitude é necessário desenvolver a paciência, tão ou mais necessária para que as coisas aconteçam naturalmente.
A primavera começa daqui a dois meses, assim como o calendário forte de provas. Que tal se colocar o desafio de vivenciar o treinamento a sério, se proteger de decepções em um casulo? Não significa se isolar, nem deixar que falar com as pessoas e nem postar nas redes sociais os seus treinos. Mas simplesmente desenvolver a paciência e o autoconhecimento diário para que, finalmente, você produza as asas que a levarão rumo aos seus sonhos.
Retirado de http://divasquecorrem.com/divas-que-inspiram/do-casulo-a-borboleta/